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Discriminação: Um caso real......

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Olá! Chamo-me Sérgio Iahaya dos Santos Daúde, e nascí em Moçambique no periodo anterior à independência daquele país.Oriúndo de uma família multi-étnica (na qual se combinam origens europeias, africanas e goesas) nascí português, pois os meus bisavôs tanto maternos como paternos possuiam a nacionalidade portuguesa que transmitiram aos seus filhos.
Vivo em Portugal desde os meus seis anos de idade, altura em que devido à instabilidade política e social que se vivia e que se viveu em moçambique, no periódo imediatamente a seguir à indepêndência de Moçambique viemos viver para Portugal.
Regressámos a Portugal 80 anos depois de o meu bisavô materno, serralheiro de profissão, nascido em Lisboa e de família Ribatejana daquí ter saído com destino á Costa Oriental de Àfrica, deportado do então Reino de Portugal por causas políticas ligadas à luta operária em 1897.
Deixámos Moçambique, pois a situação de perseguição étnica, a nacionalização dos bens dos cidadãos portugueses e a crescente falta de segurança não nos possibilitavam que alí continuássemos, até porque não havia qualquer possibilidade política de que fóssemos de alguma forma reintegrados na sociedade do novo país. Assim a minha mãe e os meus avós optaram por vir para cá.

- Pois bem! Não fugindo ao tema de que me proponho falar, gostaria de referir que de uma forma ou de outra, ao longo da minha vida tive de lidar com situações de discriminação, fosse a que nível fosse ( social, escolar, profissional, familiar..) desde os meus seis anos.
Fiz os meus estudos primários na escola primária da Póvoa de S.to Adrião(onde entrei aos sete anos de idade e estudei da primeira à quarta classe,que repetí), e parte dos meus estudos Secundários (que só muito recentemente completei, este ano, aos 38 de idade), na Escola Secundária Mário de S.Carneiro em Camarate ( de onde, na altura em que deixei aquele estabelecimento de ensino, saí apenas com o 7ºano de escolaridade concluído).Entretanto após deixar o Ensino corria o ano de 1989, continuei na minha procura de valorização profissional e académica e possuo agora o 12ºano de Escolaridade que concluí recentemente, através do processo RVCC (Novas Oportunidades).
Para além da conclusão dos estudos Secundários, ao longo da minha vida, no meu esforço de autovalorizar- me, tirei alguns cursos de formação: Electromecãnica de Refrigeração, Informática na Optica do Utilizador, Técnico de Hardware e tirei um curso de inglês de custa duração no British Council de Lisboa.Cursos que concluí com aproveitamento.

Image Hosted by ImageShack.us-Lembro-me que durante os meus primeiros anos de escola primária, os meus colegas de turma descriminavam-me e excluíam-me das brincadeiras, pois eu era o único Africano (ainda que mestiço, e não própriamente preto) e chamavam-me preto. Ouvia frequentemente, na escola e na rua expressões tais como "Preto vai para a tua Terra" e coisas do género. Compreendo que naquela altura devido à proximidade do término dos conflitos coloniais, e da descolonização mal-concluída e que deixou profundas marcas na sociedade portuguesa fossem ou seriam de esperar reações desse tipo, e que ainda que indesejável fosse, se buscassem bodes expiatórios...
Entretanto a este tipo de discriminação veio-se a juntar um outro ainda mais insidioso...!
-A minha primeira dentição (dentição provisória) nasceu correcta. Mas por altura dos meus 8 anos de idade quando começaram a nascer-me os primeiros dentes definotivos, estes começaram a entortar e a desnvolver uma maloclusão de nível 3.
 Pode-se ver nas duas fotos pequenas ( a primeira,colorida tirada aos 6 anos de idade e a segunda aos 11 anos, a preto e branco) o mau posicionamento dentário.
-Na terceira foto (já adulto e com 38 anos) é bem patente a dimensão do defeito de Ortodôncia.Não é notório ou evidente quando sorrio para uma camara fotográfica, mas tem sido para mim causa de exclusão social a muitos níveis e tem sido utilizado por muitas pessoas como forma de coacção, de chantagem e também como forma de procurar fazer da minha pessoa um bode expiatório daquilo que vai mal na sociedade..
-É claro fui crescendo e o problema foi-se agravando...
É um problema que devido à mentalidade retrógrada de muitas pessoas me tem excluído do processo social e me tem afectado inclusive no acesso ao emprego pois as pessoas identificam-me (ou tentam identificar-me) como alguém anormal e incapaz para o trabalho, ignorando as minhas qualificações profissionais ou pondo-as em causa, tal como tem acontecido.
Tenho-me deparado com reacções diversas por parte da sociedade...uns julgam-me como uma pessoa inferior, ou que possuí algum tipo de retardamento mental (que sou alguém, a título de exemplo, que padece de síndrome de Down), alguns outros julgam que sou algum cadastrado, ou algum criminoso, ainda que nem no meu comportamento ou inter-relacionamento social, manifeste algum comportamento que o denote. E também nesse porém posso afiançar e comprovar documentalmente, mediante a apresentação de um registro criminal a inexistência de quaisquer antecedentes quer de ordem penal quer judicial que corrobore, qualquer alegação por parte de terceiras partes nesse sentido.
Entretanto tenho-me também deparado com bastantes obstáculos sociais e atos de discriminação contra a minha pessoa a nível institucional devido à minha aparência física.
Posso dar um exemplo ocorrido comigo em dois bancos.
No primeiro caso entrei numa sucursal do banco em que tinha a minha conta bancária (naquele caso tratava-se de um depósito jovem, isento da cobrança de serviços) e como não levasse comigo o cartão Multibanco, e pretendesse movimentar a minha conta dirigí-me à caixa, tendo aguardado a minha vez.
 O funcionário exigiu-me o pagamento de uma taxa que naquele caso concrteo não era pedida pelo banco pois o meu tratava-se de um depósito jovem, ao que eu contrapús e recusou-se a dar-me o saldo.
Chamei o gerente , que pôs-se a dizer que eu era atrasado mental e inclusíve pretendeu pôr em causa que eu tivesse qualquer tipo de depósito bancário naquele banco. Depois de muita discussão, desafiei-o a verificar pelo número do meu BI a existência ou não de algum depósito ou não em meu nome. O "homem", confirmou , todo espantado, que eu era cliente do banco. (Será isto o tipo de atitude competente que se espera de um gerente de uma instituição bancária ou não será antes um exemplo de um comportamento preconceituoso de alguém que se coíbe de exercer o seu raciocíneo crítico em detrimento de uma atitude competente, que seria naquele caso a de confirmar imediatamente se existia algum depósito ou não ).
Noutra instituição bancária (num caso mais recente tentei por duas vezes abrir aí uma conta bancária. Da primeira vez, tal como na segunda, dirigí-me aí com todos os documentos exigidos, bem como com o montante mínimo requerido de 250€.
Da primeira vez, coloquei-me na fila, e enquanto aguardava, fui interpelado por um senhor de fato e gravata (funcionário) que me perguntou o que é que desejava.
Disse-lhe que pretendia abrir conta e ele disse-me que o montante mínimo para abertura de conta era de 500€. Saí dali de pé atrás, com a ideia de que me haviam procurado despachar e perguntei ao contabilista da instituição onde na altura me encontrava a tirar um curso de formação, instituição que lidava com esse banco e ele sugiriu-me a possibilidade de eventualmente me terem "despachado". Porquê? Não sou um cliente,um cidadão como os outros? Onde estava portanto a minha igualdade de direitos perante a lei?
A minha segunda passagem pela mesma instituição bancária 2 anos depois também não foi melhor.....pois também dessa vez recusaram-me a abertura de conta bancária com a desculpa de que como o meu bilhete de identidade não se encontrava em bom estado de conservação, eu não possuía bilhete de identidade.
Qualquer dos três casos que mencionei são de acordo com a lei casos que se enquadram na práctica discriminatória definida na lei como:"..Recusa de fornecimento de bens e serviços".
Num outro caso igualmente sucedido na sucursal de uma instituição bancária onde igualmente possuía uma conta, ao procurar resolvêr um assunto referente àquela, foi-me dito que deveria dirigir-me à agência onde tinha aberto conta, quando tal não era de forma alguma necessário e de nenhum modo imprescindível para a resolução do problema, que depois de eu têr feito valêr os meus direitos, foi resolvido naquela ocasião.
O porquê daquela atitude?!!!!?O que é que justifica de alguma forma que se procure, "despachar"um cliente com base no pressuposto de que aquele deveria, por pertencer a um outro grupo étnico, ou por ter um defeito dentário que lhe causa uma deformação na boca, ser de facto estúpido ou imbecil? (Soa algo Lombrosiano!)
Aliás na minha vida pessoal os casos de discriminação, a nível institucional ,de que tenho sido vítima devido à minha aparência têm sido inúmeros, não se restringindo como é óbvio à área bancária. Tenho me defrontado com os mesmos obstáculos em muitas repartições quando tenho de tratar documentos, sou seguido em muitos supermercados, lojas, e superfícies comerciais e tratado como se fosse um criminoso. Como se ali houvesse entrado com o intuito de roubar ou furtar alguma coisa...São situações que não deixam de ser constrangedoras, pois vejo-me na condição de ser posto em causa na minha dignidade e de ser caluniado e ferido na minha imagem pessoal.
Recordo-me de ter sido assaltado à entrada do Metro e de ter encontrado um dos agressores dentro de um centro comercial.
Identifiquei-o e chamei dois polícias. No momento que indiquei o agressor aos dos polícias este deu-me um pontapé, enquanto aqueles me dois agarravam, impossibilitando que me defendesse.
 Fui agredido por dois seguranças do referido centro comercial, na presença daqueles dois polícias, que assistiram à agressão sem que esboçassem qualquer acção.Fui á esquadra apresentar queixa deles recusaram aceitá-la....disseram-me que aqueles polícias não eram daquela esquadra. Dirigí-me a outra onde também se recusaram a aceitar que alí fizesse queixa dos referidos agentes.....Onde estavam os meus direitos portanto?
De acordo com o código penal vigente na altura, no seu Art.113 :
" Quando o procedimento criminal depender de queixa tem legitimidade para apresentá-la, salvo disposição em contrário, o ofendido, considerando-se como tal o titular dos interesses que a lei especialmente quis prpteger com a incriminação."
Muito recentemente, a área onde tenho encontrado, e continuo a encontrar obstáculos tem sido a do trabalho.
Tenho-me dirigido a algumas empresas de trabalho temporário com o intuito de aí efectuar inscrições e entregar currículos, e tenho-me deparado com bastantes obstáculos por parte dos funcionários das mesmas. Em muitos casos dizem-me de imediato que não existem ofertas de trabalho quando as há, põem em causa o facto de eu possuir habilitações literárias para as actividades a que me candidato.
Muitas vezes apercebo-me de que me tratam como se eu padecesse de alguma forma de débilidade mental, como se um "maluquinho" por ali entrasse....
Um caso que pode ajudar a compreender este tipo de situações e o modo como as pessoas (acéfaladamente) retrógradas assumem que eu seja uma pessoa retardada mental ocorreu um dia, em Lisboa, no Largo do Chiado, aquando da campanha  do referendo sobre a Interrupção Voluntária da Gravidez .
Dirigí-me a uma das pessoas de um dos partidos que estava em campanha e pedí alguma propaganda.
A senhora perguntou-me (convencida de que eu era algum atrasado mental que estava ali para  pedir esse tipo de memmorablia) um pin. Ao que lhe respondí, para grande espanto dela que não, que o aceitaria de bom grado se o quisesse dar, mas que estava mais interessado realmente na propaganda que me pudesse dar.
Ou seja àquela criatura parecia-lhe insólito que eu pudesse de alguma forma ter algum interesse, numa questão de importância nacional como era o Referendo, baseando-se tão sómente na minha aparência física ou no facto de eu ter este defeito de ortodôncia.
Pelos vistos neste país é necessário ter um rosto particularmente indicativo de qualquer coisa.....realmente...!!!
Creio que os exemplos que aludí e os casos que referí, dão bem ideia do tipo de situações de discriminação racial, étnica, alicerçada na minha aparência física, que vivo no meu cotidiano nesta sociedade onde os meus direitos ainda que elencados na lei, não são nem garantidos, cumpridos ou respeitados e onde sou cidadão de segunda classe....à força da intolerância, da calúnia, do preconceito (do que se supõe que seja e de algum modo se desejaria convenientemente que eu fosse) .
Já algo recentemente ao visitar a página NetEmpregos, do Instituto de Emprego e formação Profissional deparei-me com o seguinte na minha ficha de inscrição:

Referiam-se à minha pessoa como sendo possuidora de outras deficiências psicológicas.(Quais seriam?) Sinceramente não sei, mas de qualquer forma não possuem bases ou dados que possam corroborar que eu possua de acto qualquer deficiência psicológica...
Depois de me dirigir ao Centro de emprego e de explicar à funcionária que não possuo de facto qualquer deficiência mental (muito apesar de ela me ter tentado convencer que há pessoas deficientes muito capazes...e blá...blá blá...) ela lá retirou e corrigiu aquela informação.





1 comentário:

filomena iria disse...

Estou chocada! Tenho pena dos pobres coitados que lhe fecharam portas e janelas tenham perdido a oportunidade de, pelo menos, ver como você escreve. Mas é o que temos: continuamos a ver as pessoas só por fora e a fazer juízos, não por aquilo que as pessoas são mas por aquilo que vemos. Somos cegos, peço perdão, embora pense que não teria esse tipo de atitude medieval... não, medieval não! Na Idade Média havia apenas falta de informação e misticismo, nos tempos de hoje é totalmente inadmissível, logo é Pré-histórico. Todas essas pessoas com que você se depara evoluíram para Protozoários!

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