A Polícia Judicíaria deteve, fará amanhã oito dias o violador de Telheiras , responsável ao que se sabe por cerca de quase 40 violações naquela e noutras zonas da cidade de Lisboa depois de quase dois anos de investigações.
Os primeiros ataques deste meliante ocorreram em 2008 tendo por base sempre o mesmo modus operandi.
O suspeito agora detido e autor confesso das agressões sexuais, conhecido como o "Violador de Telheiras" por actuar preferencialmente neste bairro da cidade, agia com o rosto descoberto e quase sempre da mesma maneira: esperava as vítimas dentro dos prédios onde viviam e com o auxílio de uma faca forçava-as a practicar actos sexuais (geralmente sexo oral e masturbação).
No intuito de capturá-lo a Polícia Judiciária avançou com um retrato robot que foi divulgado à Imprensa no dia 25 de Janeiro.No sítio da Polícia Judiciária a par com o retrato robot podia lêr-se :
"no âmbito de investigação policial por crimes graves contra as pessoas, a PJ solicita a colaboração do público, no sentido de fornecer informações que serão sigilosas e permitam conduzir à identificação do indivíduo suspeito a que corresponde o retrato-robô.
Trata-se de um homem, de nacionalidade portuguesa, com cerca de 1,70/1,75m de altura, 25/30 anos de idade e de estatura média/magro.
Usa cabelo muito curto, apresentando entradas ou rapado.
Traja roupa casual ou desportiva.
Habitualmente usa óculos escuros e/ou espelhados tipo " Ray Ban".
Foi visto com chapéu panamá em tecido cor bege e mala/mochila também em tecido da mesma cor, da marca "Eastpack"».
Caso disponha de quaisquer elementos que possam conduzir à identificação do indivíduo suspeito, agradece-se o contacto para: Polícia Judiciária, Directoria de Lisboa e Vale do Tejo. Telefone: 218 641 248 . Telemóvel: 96 857 4838.
Ou através do endereço de correio electrónico dl.2seccao@pj.pt. "
Muito apesar da divulgação do retrato robot as descrições das vítimas bem como as recolhas do ADN do suspeito foram determinantes na captura do violador de Telheiras
e muitos dos pormenores referidos no comunicado da PJ, obtidos a partir das descrições feitas pelas vítimas, coincidiam com as características físicas do indivíduo.
Dois anos de intensivas investigações culminaram na Sexta-feira passada dia 05 de Março, pelo fim da tarde na detenção do suspeito no seu local de trabalho.
Tratava-se de um indivíduo de 30 anos, engenheiro de telecomunicações que trabalhava na área do apoio ao cliente, no back-office da empresa de distribuição de televisão por cabo Zon-TVcabo e residente em Queluz-Massamá, onde vivia com a sua companheira.
O indivíduo de nome Henrique Paulino Sotero (nome que já foi veiculado à imprensa) quando detido no seu local de trabalho, terá oferecido resistência aos agentes que o detiveram, tentando agredí-los.
Nas horas que se seguiram à detenção, o suspeito negou todos os crimes, mas depois já na sede da Polícia judiciária confessou as várias agressões bem como avançou com alguns outros pormenores sobre casos de violação não-relatados às autoridades.
O presumível violador ficou à partida indiciado por oito casos de abusos sexuais e de dois por roubo, havendo ainda a suspeita da sua participação em pelo menos outros dois.
No entanto é credível que o número de vítimas deste "predador sexual" se eleve a muitos mais casos, uma vez que muitas das vítimas não reportaram os casos à polícia.
Questionado, o engenheiro da Zon que de início se recusava a falar, alegou que agia por compulsão e que já atacava raparigas adolescentes desde que frequentava o Instituto Superior Técnico.
O violador Henrique Sotero compareceu Sábado dia 06 de março diante do Juíz de Instrução Criminal que lhe decretou a Prisão Preventiva como medida de coacção, uma vez que o crime de violação tem uma moldura penal superior a três anos e devido à perigosidade do indivíduo e ao risco de reincidência.
Depois de ouvido pelo juíz ficou detido na área prisional da Polícia Judiciária.
Opinião de psiquiátra
O Jornal o Correio da Manhã publicou sobre o assunto da detenção do violador de telheiras uma entrevista com o psiquiatra Júlio Machado Vaz:
“VIOLAÇÃO PODE INDICIAR PROBLEMAS COM A MÃE”:
(Júlio Machado Vaz, psiquiatra especialista na área sexual )
Como se explica que uma pessoa com tudo para estar integrado cometa estes crimes?
- Isso segundo a nossa lógica. Aparentemente teria tudo para ter uma vida dita normal. Tal como o álbum dos Pink Floyd, o Dark Side of The Moon, este tipo de indivíduos também têm um lado negro, completamente separado da sua vida quotidiana. Por exemplo, os psicopatas não têm consciência ética ou sentimento de culpa. As pessoas são meros objectos.
- Trata-se de um engenheiro, de 30 anos, solteiro, que trabalhava numa linha de atendimento ao público...
- Uma pessoa destas é um individuo hiper-adaptado. Por um lado tem uma vida perfeitamente normal, podendo mesmo até ser o colega perfeito. Por outro, as restantes pessoas não têm qualquer valor. É uma espécie de Dr. Jackyl e Mr. Hyde, mas sem a poção. Profissionalmente, é impecável e cumpre com o que lhe é exigido. Pessoalmente, pode ser paupérrimo nas relações afectivas com amigos e/ou namoradas.
- Qual o significado da violação?
– Quando falamos de violação, ficamos hipnotizados pelo lado sexual do crime. Em muitos casos, o acto sexual é apenas uma forma de conseguir outras coisas como a afirmação de poder e humilhação das mulheres. O sexo será para obter uma gratificação que em si mesma não é sexual. Pode indiciar problemas com a figura maternal e ser um ajuste de contas com a figura feminina, através do sexo."
Na edição do jornal Público online do dia 12 de Março podem-se observar também a opnião de alguns psicólogos:
"Este homem tem uma imagem securizante, é o tipo de pessoa com quem se entra num elevador, com quem qualquer um de nós beberia um café", diz ao P2 Carlos Poiares, psicólogo criminal. A maneira como confiamos nas pessoas em função da sua imagem exterior, acrescenta, devia fazer-nos pensar. Este homem, aparentemente, era uma pessoa perfeitamente "normal".
"Costumava usar uma t-shirt branca, calças escuras, sentava-se na esplanada sozinho", conta a funcionária de um dos cafés da "rua das esplanadas" de Telheiras. Provavelmente olharia para as raparigas que iam chegando das escolas da zona - num raio de poucos metros há dois estabelecimentos de ensino.
Eventualmente escolheria ali algumas das suas vítimas, quase sempre menores. Mas isso a funcionária não sabe. Na verdade, nunca prestou grande atenção ao homem de t-shirt branca até esta semana ver o rosto dele no jornal.
"Os agressores sexuais têm características muito especiais", diz Cristina Soeiro, do Instituto Superior de Polícia Judiciária e Ciências Criminais. Sim, há-os integrados, sem cadastro, planeados, organizados. Fora de casa "usam o sexo como arma". Dentro de casa as companheiras podem passar anos sem se aperceberem de nada. Estudos feitos nos EUA mostram que, em média, os "violadores em série" fazem 11 vítimas até serem capturados."
Serão doentes mentais ou sofrerão apenas de uma perturbação de personalidade?
"Mas a pergunta que faz Joana e a senhora do café e a funcionária da padaria de Telheiras é se alguém assim é doente mental. E se é, se está condenado a reincidir? As respostas não são fáceis. "Há muitos perfis de violadores", diz ao P2 Carlos Fernandes, director do mestrado de Psicologia Forense, da Universidade de Aveiro. Fernandes faz este tipo de avaliações, já foi chamado como consultor a tribunais - pronunciou-se, por exemplo, sobre a perícia psicológica feita àquele que ficou conhecido como o serial killer de Santa Comba Dão, um ex-militar da GNR, respeitado, insuspeito, que matou três jovens entre 2005 e 2006. "É frequente que haja uma psicopatologia [como a esquizofrenia, por exemplo]", mas não acontece sempre. "Essa avaliação tem que ser feita através de entrevistas muito cuidadas, onde se analisa a postura, o discurso, a mímica do indivíduo... Implica testes científicos internacionais, devidamente adaptados às características da população portuguesa."
-Há violadores com uma perturbação de personalidade, que nem sempre é fácil de identificar, que passam despercebidos na comunidade, continua Fernando Almeida,
responsável pela unidade de Psiquiatria Forense no Hospital de Magalhães Lemos, no Porto. "Não são doentes mentais", diz Cristina Soeiro. É outra coisa. "São pessoas que não sentem culpa, que não conseguem estabelecer relações afectivas de uma maneira dita "normal". Cerca de 60 por cento das violações são cometidas por indivíduos com uma perturbação de personalidade."
Também há violadores ocasionais, que actuam "num contexto de intoxicação". E os psicóticos, que agem quando estão descompensados - mas que, se forem tratados, terão muito menor probabilidade de reincidir. O que acontece, depois de detido um destes predadores, é definido em função da avaliação de tudo isto.
Estes indivíduos podem precisar, enquanto cumprem pena, de uma terapia comportamental muito intensiva, "que os ajude a controlar os seus impulsos". Na prática, há poucos técnicos para a população prisional, reconhece Carlos Fernandes.
Pode igualmente ser necessária medicação. E, cumprida a sentença (em Portugal, a pena por violação pode ir até aos dez anos), pode ser imprescindível um acompanhamento a sério. Mas Carlos Fernandes faz uma "avaliação muito má" do que se passa a esse nível. "Os reclusos saem da prisão, a família não adere a estes programas, é muito difícil segui-los. E, se houver uma psicopatologia, o risco de reincidência é muito grande."
A Polícia Judiciária (PJ) não tem estudos que permitam apurar quais as taxas de reincidência nestes casos. Sabe-se que os violadores com perturbação de personalidade "têm um prognóstico muito reservado, ainda que submetidos a tratamento". E que é entre estes que o risco é mais alto.
Talvez por isso, noutros países, histórias como as do violador de Telheiras fazem saltar para o debate público o tema "castração química". O que, na prática, implica a administração de fármacos, antagonistas da testosterona - uma hormona sexual masculina com efeitos sobre a actividade sexual. "Mas, para além dos problemas éticos, a questão levanta problemas técnicos. Não sabemos ainda quais as consequências a longo prazo destes medicamentos", diz Carlos Fernandes.
Para além de que a toma da medicação depende dos próprios, o que é falível."
- De facto aquilo que mais parece ter chocado a opnião pública portuguesa àcerca deste caso foi o facto de o confesso criminoso ser um indivíduo de aparência física normal, sem qualquer marca ou traço específico identificativa ou denotativa de um caracter violento ou de um vísivel transtorno de personalidade; chocou igualmente o facto de o indivíduo possuir um alto nível de escolaridade e de aparentemente possuir tudo aquilo que de outro modo o qualificaria como um indivíduo integrado.
Possuía uma casa, uma companheira, tinha um trabalho, estudos, um carro contradizendo todos os estereótipos socialmente estabelecidos daquilo que "mitológicamente" a sociedade estabeleceu como sendo as características típicas e identificativas de uma personalidade psicópata.
A edição online do Jornal "O Público" de 12 de Março de 2010 acrescenta:"É isto uma vida dupla. Um homem de 30 anos, discreto, que estudou Engenharia no
Instituto Superior Técnico. Que tem um trabalho estável e é bem visto pelos colegas. Um homem com uma namorada e um T3 num prédio recente em Massamá, Queluz. Um homem que vai ao ginásio às terças-feiras, que passeia a cadela depois do jantar. O mesmo homem que persegue adolescentes na rua, que as ataca com uma faca ou uma chave de parafusos, que exige sexo oral, masturba-se, larga-as, volta para casa... Até que um dia é apanhado e acaba por confessar que violou 40 raparigas. A confirmar-se tudo isto, foi esta, durante pelo menos dois anos, a vida dupla do alegado "violador de Telheiras".
A mesma notícia na mesma edição exemplifica algumas das reações do público perante a detenção daquele indivíduo:
"Só pode ser um louco" - é a frase sobre este caso que por estes dias se ouve mais no bairro lisboeta onde supostamente actuava o engenheiro que trabalhava na ZON TVCabo.
Estudava formas de melhorar os serviços que a empresa presta aos clientes, era essa a sua função.
Desde sexta-feira está preso preventivamente.
-"Não deve bater bem da cabeça", é também o desabafo agastado de uma das funcionárias do ginásio que ele frequentava em Telheiras, uma das poucas que se lembram dele.
E é também qualquer coisa parecida com isso que diz a senhora da padaria, o carteiro e Joana, 18 anos, cara de menina.
Mas será mesmo assim?
"Até me custa olhar para ele.
É tão... tão parecido com tantas pessoas que conhecemos", diz a rapariga sentada numa das esplanadas que o engenheiro costumava frequentar.
E olha indignada para uma folha de jornal sobre a mesa, no qual aparece impressa a fotografia do suposto criminoso. "
"O alegado "violador de Telheiras" vivia com uma mulher há três anos.
Nas redondezas da sua casa não há muitos vizinhos que se lembrem dele. "Parecia ser uma pessoa sossegada", diz um.
"Não me lembro dele", dizem muitos outros. Quase invisível?
E no entanto, às terças-feiras, saía do trabalho, em Lisboa, dirigia-se ao ginásio, em Telheiras, e depois esperava.
Via as jovens encaminharem-se para um prédio.
Entrava com elas, como se fosse apenas mais uma pessoa que para ali se deslocava, e depois ameaçava-as.
Consumada mais uma violação, voltava a Massamá."
Este é mais um exemplo de atipismo que desmente a ideia instalada na sociedade de que existe de facto um estéreotipo físico associado à figura criminosa de um violador pela qual estes se poderão identificar.
No fundo aquilo de que se trata é de independentemente da aparência dos indivíduos, no caso dos violadores de pessoas mentalmente perturbadas, sofrendo de patologias de transtorno psicológico de vária ordem, e nas quais a vivência anterior e o crescimento cognitivo e o background familiar poderão de alguma forma ter tido um papel preponderante.
De acordo com uma notícia públicada no DN online do dia 10 de Março sobre os estudos efectuados pelas psicólogas da Polícia Judicíaria a 200 predadores sexuais e que seguidamente trancrevo para que fiquemos com uma ideia mais clara dos perfís mais comuns associados ao crime de violação:
"Psicólogas da PJ estudam 200 agressores sexuais
por PAULA CARMO
Base de dados da Judiciária existe desde 2002. Identificados quatro perfis de violadores. Vítimas têm, em média, entre 18 e 28 anos .
O violador de Telheiras é a mais recente entrada na base de dados da Polícia Judiciária para o estudo dos agressores sexuais.
Desde 2002, a listagem já conta com 200 casos.
As psicólogas traçaram quatro perfis de violadores, todos com um traço em comum: uma baixa auto-estima, oriundos de famílias com problemas de vinculação.
Os 200 agressores da base de dados da PJ foram detidos por violação e, também, foram apanhados nas malhas da justiça por abuso sexual de crianças.
Duas psicólogas, Cristina Soeiro e Raquel Guerra, tentam caracterizar o comportamento criminal (antes, durante e depois da agressão), entender as características individuais do agressor (como é no trabalho, na família) e, ainda, compreender qual a relação que o agressor estabelece com a vítima.
Um trabalho amplo, complexo e muito vasto.
Porque se cometem as violações?
Cristina Soeiro, ao DN, fala em crenças, em abordagens e tipologias.
O estudo da PJ, com a identificação dos factores de risco, incide, precisamente, sobre as tipologias das agressões sexuais.
São quatro os perfis encontrados neste estudo da Judiciária (ver caixa), de acordo com a psicóloga.
O maior número de casos está relacionado com as violações de oportunidade.
É alguém que aborda a vítima de forma impessoal, consumado o crime, vai embora.
Querendo exercer uma forma de poder, o violador, neste caso, aborda a vítima porque era ela que lhe surge naquele momento.
São vulneráveis a este tipo de crime, por exemplo, as pessoas que trabalham por turno e usam os transportes públicos a horas menos movimentadas.
Por ordem decrescente de detenções efectuadas pelos investigadores da PJ surgem
os casos associados ao comportamento criminal.
Nestes, a violação decorre de outro acto criminal, agressão física, roubo.
É uma espécie de "presente" depois de um roubo.
Nalgumas situações destas, diz Cristina Soeiro, a vítima pode morrer.
Trata-se, pois, de alguém já com antecedentes criminais.
Mas há os predadores.
No cômputo geral, os violadores de comportamento agressivo são os que retiram prazer em violar, pode agredir a vítima e pretender estabelecer uma relação com ela, personalizando o acto.
Neste caso, diz a psicóloga da PJ, são pessoas mais escolarizadas e têm maior competência mental para fazer a preparação do espaço.
São ainda pessoas com perturbações da personalidade e têm um padrão de crime.
Têm um ideal de vítima (que pode começar apenas por uma fantasia).
Afirma a psicóloga que nestes casos o indivíduo tem maior probabilidade de reincidir.
O violador de Telheiras pode estar neste grupo? Cristina Soeiro não fala de um caso ainda em investigação.
O caso mais raro existente nesta base de dados é aquele que está tipificado como o violador com comportamento sexual.
Neste caso, o agressor procura estabelecer passar tempo com a vítima, ganhando confiança e, consumada a violação, pode deixar amarrada a pessoa agredida.
Em geral, apesar destas diferenças, assume a psicóloga ao DN, aos agressores sexuais está associada baixa auto-estima, são oriundos de famílias com problemas de vinculação.
"É como se tivessem duas vidas, porque não têm esse papel com as pessoas com quem vivem."
As vítimas destes agressores têm, em média entre 18 e 28 anos, embora haja também vítimas com mais de 60 anos. "
(in DN Online 10-03-2010)
Definição de violação segundo a lei Portuguesa
Segundo o Código Penal Português inclui-se entre os crimes contra a liberdade sexual no caso dos adultos ou nos crimes contra a autodeterminação sexual se o abuso for sobre pessoa menor .
E de igual modo:" existe violência Sexual a partir do momento em que alguém (homem, mulher, rapaz, rapariga) é forçado a ter relações sexuais (com ou sem penetração).
Nas situações de violência Sexual inclui-se o abuso, a violação, o assédio, qualquer acto de natureza sexual não consentida e a agressão focalizada na sexualidade da pessoa, mas que atinge todo o seu ser."
(in Correio da Manhã 8-03-2010)
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