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Quando ela era branca...- A história de Sandra Laing

De entre as muitas incongruências do sistema de apartheid, numa altura (2010), em que se assinalam os 50 anos do massacre de Sharpeville,ressalva dar a conhecer a história de Sandra Laing pela sua dimensão humana e pelo carácter trágico e mecanismicamente desumano que aquele sistema que ao mesmo tempo dividiu e categorizou as pessoas durante perto de 40 anos teve na vida de muitas famílias Sul-africanas que se viram assim separadas.
Importa reflectir sobre a história de Sandra Laing...e sobre a coragem desta grande mulher..sobre a sua luta por encontrar o seu lugar num mundo e numa sociedade que lhe eram hostís....e importa reflectir  e termos presente que a despeito de qualquer "aparente diferença "que escolhamos para nos dividir de acordo com os nossos interesses egoístas existe uma grande realidade que  nos une, a da nossa própria natureza humana".
Os elementos sobre a história de vida de Sandra aquí relatados são retirados de três artigos sobre ela públicados no DailMail e no The Times.
"Sandra laing tem dois irmãos, Leon sete anos mais velho que parecia branco embora fosse amarelado na sua compleição- a sua alcunha na escola era o judeu, e Adrian 10 anos mais novo, que também tinha uma tez mais escura e cabelo crespo mas cujapele não era tão amorenada como a de sandra.
A côr da pele de Sandra poderá ter sido a razão pela qual a família Laing se mudou para um lugar tão inóspito,no Transvaal Oriental (actual província de Mpumalanga), próximo da fronteira com a Suazilândia, por entre campos de trigo e pastagens, onde o casal Laing possuía duas lojasdois armazéns e se podia retirar do mundo. Ficava a 200 milhas de johannesburg.
Sandra Laing nunca pensara na sua côr da pele até a altura em que foi para a escola.
Piet Retief era na altura uma pequena cidade bastante conservadora.
A escola primária de Piet Retief era um colégio só para brancos.
A minoria branca de apenas 3,5 milhões de pessoas controlava as vidas de cerca de 15 milões de pessoas não-brancas e determinavam como deveriam viver, o que podiam comer, com quem podiam casar e para onde poderiam viajar.
Muito embora tanto os pais como os avós de Sandra Laing fossem brancos,asim como o seu irmão mais velho, no entanto Sandra e o seu irmão mais novo nasceram com traços e características físicas que os assemelhavam mais aos africanos de raça negra.
Os pais de Sandra Laing eram ambos membros do partido Nacional e apoiavam o regime de segregação racial (Apartheid).
Tanto Sannie, de ascendência holandesa, como Abraham, cuja família era originária da Alemanha, podiam traçar as suas origens no tempo.
Como Afrikaners, tinham sido ensinados na crença bóer de que ser branco era ser puro e de que as pessoas mestiças eram instáveis e menos inteligentes.
Mantinham Sandra afastada do sol e na comunidade rural onde viviam nínguém prestou muita atenção á sua tez cor de cacau, até ela começar a frequentar a escola.
Como os pais de Sandra Laing eram brancos, e muito apesar das escolas públicas na altura serem segregadas, ela foi enviada para uma escola só para crianças brancas,
onde foi admitida muito apesar da sua côr da pele bem como os seus traços fisionómicos serem os de uma pessoa escura e os eus cabelos serem bastante frisados.
Os pais de sandra Laing esperavam que com o decorrer do tempo e à medida que Sandra crescesse ela se tornasse mais claro e os cabelos dela menos crespos, o que não aconteceu pois a rapariga ia-se tornando cada vez mais escura e os seu cabelos mais encarapinhados.
Uma vez que Sandra Laing era excluída pela comunidade branca, os únicos companheiros de brincadeiras que tinha eram as crianças negras, filhas do empregados negros que a aceitavam como ela era.
"Fomos a um restaurante e encomendámos comida, e o gerente disse ao meu pai que eu devia ir para fora, que eu não podia comer lá" Sandra laing lembra-se.
Ida para a escola
Na escola as outras crianças evitavam-na devido ao seu tom de pele mais escuro.
As crianças brancas eram ensinadas a avaliar as características raciais . segundo aquela concepção , as pessoas de raça negra tinham narizes largos e cabelos esponjosos, e trabalhavam nas minas.
As pessoas brancas tinham pele pálida e eram patrões (bas).
Sandra lembra-se que , no seu primeiro ano na esola primária, um grupo de raparigas começou a fazer pouco dela incessantemente.
Chamavam-lhe "negrinha" e "cabeça de Carapinha" e recusavam-se a utilizar a fonte de água depois de ela de lá ter bebido.
Nos chuveiros comunais, as suas algozes diziam "vejam, ela está toda suja!..."
A sua mãe dizia-lhe que não se preocupasse,mas ainda assim Sannie , a mãe de Sandra encomendou uma garrafa de amaciador de cabelo que ardia como aciso de bateria.
Madeixas de cabelo de sandra caíam, e quando o cabelo cresceu , cresceu ainda mais curto do que nunca.
Os rumores de que Sannie a mãe de Sandra teria dormido com um homem negro eram comuns e comsequentemente, a família inteira, era evitada na igreja e na rua.
(the Times)As implicações sociais de alguém parecer de pele escura e cabelo encarapinhado quando os seus pais se movem numa sociedade inteiramente para pessoas brancas era bastante grandes.
Muitas questões eram postas à mãe de Sandra.
Era ilegal segundo o Acto da Imoralidade, um homem e uma mulher de raças diferentes terem sexo, e Sannie Laing, a mãe de Sandra Laing não conseguia explicar a aparência
da sua filha.
Para Abraham, o pai de Sandra, a ideia de que a sua esposa pudesse ter-se feito consorte com um homem negro, fazendo-o o mais humillhado dos cornudos, era inpensável (sob o Acto da Imoralidade da Africa do Súl era ilegal ter-se relações sexuais com alguém de outra raça ou mesmo beijar um membro de outra raça.)
Desagradável mas muito mais tolerável era a sugestão de que ele ou a sua esposa pudessem ter tido um ramo não-branco próximo da raíz da sua arvore geneológica.
Se a aparência dela se deve a algum sangue mestiço nalgum de nós, então esse deve ser muito longíquo de entre os nosso ancestrais, e nenhum de nós está consciente
dele."declarava o pai de Sandra.
Um tal argumento era bastante concebível e de acordo com uma pesquisa públicada nos anos setenta, cerca de 8 por cento dos genes dos modernos Afrikaners é não-branco.
E estudos mais recentes apontam para uma percentagem maior de cerca de 11 por cento.
Os pais locais começaram a tirar os seus filhos da escola e o director escreveu para as autoridades escolares declarando-se seguro de que Sandra Laing era de sangue mestiço.
As outras crianças gozavam-me porque eu era preta e quando eu me despia gozavam-me.
"Eu ficava de pé atrás do quadro da escola porque o meu corpo era negro,não como os corpos deles."
O director da escola Mr. Van Tonder, nada fez para desencorajar.
"Ele sempre me censurava e punia-me".
"Muitas vezes eu era fechada num quarto escuro".
Quando Sandra completou os seus 10 anos de idade as autoridades escolares expulsaram-na da escola, tendo a polícia escoltado-a a casa.
A jornalista Sul-africana Judith Stone descreve aquele momento na sua biografia de sandra Laing"When she was white"(Quando ela era branca"):
Sandra Laing fazia as suas contas de somar, muito quietamente quando um rapaz foi chamá-la à sua sala de aula.
No gabinete do director da escola, dois polícias trajando uniformes de khaki aguardavam-na...
'Receio que tenhas de nos deixar...' disse-lhe o director. Não lhe deu qualquer explicação, e nem tão-pouco lhe disseram coisa alguma os dois polícias que a escoltaram para fora das instalações escolares.
Era dia 10 de março de 1960.
Em Robben Island, afastado da costa, Nelson Mandela servia o seu segundo ano de uma pena de prisão perpétua por sabotagem.
E através de um malfado da genética, Sandra de 10 anos iria tornar-se um outro potentoso símbolo de uma nação edificada sobre os auspícios da raça e do preconceito.
Os seus pais, Abraham e Sannie Laing, eram brancos - na verdade, como membros do partido nacionalista, eram ferverosos apoiantes do regime do apartheid - e no entanto a sua filha parecia inegávelmente negra, com a sua pele acastanhada e cbelo espessamente encaracolado.
O seus traços africanos eram quase certamente uma reminescência de um ancestral cujo o DNA, tendo jazido adormecido por diversas gerações, emergiu nela.
Mas na altura em que Sandra era uma menina de escola, este aspecto da genética era ainda desconhecido e não existia nada semelhante aos testes de ADN.
havia apenas muito forte e mexerico de que a sua mãe tinha tido um caso com um homem negro.
Durante quatro anos os professores e os pais dos outros alunos no seu colégio só para brancos lutaram para expulsá-la sob o pretexto de que ela era de origem mestiça.
Finalmente tiveram sucesso!
Batalhas legais
Os seus pais travaram diversas batalhas legais por forma a que a sua filha fosse reconhecida legalmente como branca, muito embora nenhuma escola a inscrevesse.
O pai de sandra chegou mesmo a realizar testes paternidade (aqueles testes eram percursores dos testes modernos de DNA) e os resultados dos testes não excluíram a
possibilidade de ele ser o pai biológico de Sandra.
Tanto ele como Sannie assinaram um affidavit (documento legal no qual alegaram sobre honra) em como eram os pais biológicos de Sandra.
Durante 18 meses o casal Laing travou batalhas jurídicas contra a reclassificação da sua filha-tendo a princípio perdido o seu caso na Suprema corte, tendo depois para seu alívio recebido uma carta do Ministro dos Assuntos Internos (Ministério do Interior) informando-os de que a decisão havia sido invertida o que tornava Sandra Laing a sua filha oficialmente branca.
(The times) "Em 1967 Sandra foi reclassificada como branca; como resultado directo de uma campanha realizada pelo pai a lei foi alterada de modo a dizer que um filho de dois pais brancos não poderia pertencer a outro grupo racial.
No entanto apesar do reconhecimento de Sandra Laing como branca, nove escolas recusaram aceitá-la e ela foi internada num convento dirigido por freiras irlandesas.
Ali embora receasse que a história se repetisse, Sandra fez amigas entre as alunas brancas.
O primeiro amor e a fuga de casa
Mesmo assim apesar das amizades que fez no convento entre as suas colegas brancas a pessoa com quem gostava de conversar era com o motorista zulu da escola, Samuel.
"Eu poderia conversar mais facilmente com as pessoas negras do que com as brancas, poi eu sentia-me mais á vontade com elas."
Durante as férias , Sandra trabalhava com a sua mãe na mercearia da família.
 Ela gostava de conversar com os clientes, e em especial com Petrus Zwane, um vendedor de produtos hortículas Suazi (natural da Suazilândia).
"Toda a gente gostava de Petrus"-mesmo o meu pai- Conta sandra.
Ela sabia que Petrus tinha uma mulher e três filhos, mas naquela altura aos 14 anos ela teve uma paixonite de adolescente.
Um dia , num pinhal atrás da casa de Sandra, Petrus beijou-a.
Não muito tempo depois eles fizeram amor pela primeira vez.
O seu relacionamento continuou durante alguns meses antes de os pais o descobrirem." "A minha mãe disse que o meu pai matava-me".
"Ele estava completamente fora de sí".
 Ele gritou:"As pessoas brancas não se involvem com as pessoas negras. Eu tento pôr-te numa boa escola, e agora andas metida com Cafres".
Dois dias depois, quando Petrus parou na bomba de gasolina defronte da casa dos Laing,Abraham apontou-lhe a sua pistola.
A mãe agarrou a pistola e Petrus ficou ali congelado.
A minha mãe disse ao Petrus para se ir embora e não voltar.
O "caso" criou uma inaltrapassável cisão entre Abraham e a sua filha.
Um ano depois convencido de que o seu pai não gostava mais dela, Sandra fugiu com Petrus.
O pai de Sandra Laing: uma outra perspectiva...
O director e realizador do filme "Skin"que retrata a vida de Sandra, tece uma perspectiva interessante sobre Abraham Laing, o pai de Sandra:
"Não tenho dúvidas de que o que ele fez, fê-lo de modo a protegê-la...Na Àfrica do Sul daquele tempo viver como uma pessoa negra e ser despojado de todos os privilégios de se ser uma pessoa branca. era algo de que ele queria protegê-la a todo custo."
E acrescenta que o pai dela agia nos melhores interesses da filha.
"O que ele não aceitava é que a sua filha não fosse aceite pela comunidade branca".
Uma nova família-O nascimento dos filhos
Depois de fugir, foram ambos detidos.
 Ele passou um mês na cadeia: ela passou lá dois meses.
Depois de solta, Petrus levou-a para a casa dos pais dele na Suazilândia, onde Sandra se tornou numa espécie de "pequena esposa" para a esposa de Petrus que se chamava
Lisa.
Ela deu-se bem com a sua nova família.
"Eu era feliz . Sentía-me em casa. Eles eram como que a minha própria gente."
A mãe de Petrus , Jenny, tornou-se uma segunda mãe para ela e ajudou-a no nascimento dos seus dois filhos.
Não havia hospitais disponíveis para Sandra Laing, que não era nem branca nem negra.
"Eu era bastante nova para ter um bébé. Tinha apenas 16 anos. E o segundo bébé veio bastante depressa. Eu ainda brincava com as minhas amigas, mas Jenny ajudou-me com as crianças.Eu estava muito, muito feliz."
No seu regresso à Africa do Sul, Sandra foi forçada pela lei a mudar-se para um bairro só para pessoas negras (township segundo a gíria local).- sem água canalizada, esgotos ou electricidade.
O pior estava para vir, pois ela foi informada pelas autoridades do apartheid, que ela não poderia ter os seus bébés consigo, ambos nascidos com pele negra, pois ela era agora oficialmente branca e pessoas de raças diferentes não podiam, de acordo com as leis em vigor na altura, viver na mesma casa.
Os oficiais judiciais disseram-lhe que ela necessitava a autorização do pai dela para ser classificada como Coloured (mestiça) de modo a que pudesse ficar com os filhos, mas o pai dela recusoua dar-lhe a certidão de nascimento.
Sandra manteve contacto ocasional com a sua mãe, e um ano depois quando , deu à luz ao seu segundo filho,Henry aos 16,telefonou a Sannie.
"Ela disse-me que eu deveria trazê-lo , mas que viesse, ao meio-dia para que o meu pai não soubesse."
Petrus deixou-a com Henry (o filho recém-nascido) perto da loja.
Sannie ( a mãe de sandra) pegou nele ao colo e beijou-o, mas Sannie não a convidou a entrar em casa.
"A visita durou apenas dez minutos. A minha mãe estava com medo que o meu pai regressasse".
Daí a 18 meses, Sandra fazia a mesma viagem com o seu segundo bébé - uma filha chamada Elsie.
"A minha mãe disse-me que não a deveria contactar de novo".
Quando estava prestes a sair, a minha mãe disse-me que eles estavam a planear mudar-se.
 Disse-me que eu deveria olhar bastante por mim, e que não a deveria contactar de novo.
"Eu estava triste, mas sabia que era ideia do meu pai e não dela."
Dois nos depois , Sandra regressou à loja dos seus pais, apenas para a encontrar vazia.
Ninguém conseguia dar-lhe o novo endereço dos seus pais.
Em maio de 1977, o terceiro bébé de Sandra, uma menina chamada Jenny morreu aos sete meses vítima de febre.
Sandra e Petrus ficaram devastados.
Petrus começou a beber muito e sandra convenceu-se de que ele a culpava pela morte da sua filha Jenny.
Acusou-a de andar com outros homens e tornou-se violento.
Ao princípio esbofeteava-a e depois passou-a a bater com um sjambok (aquilo que vulgarmente se chama de cavalo-marinho: um chicote feito de pele de rinoceronte).
As costas de sandra ficariam em breve cobertas de golpes profundos feitos pelo chicote e o sangue escorria profusamente da sua cabeça.
Eles tinham uma pequena loja, e Petrus começou a roubar os proventos para beber.
Em então em 1973,o seu bairro, Kromkrans, foi declarado uma zona só para brancos.
Eles foram despejados.
Sandra viu-se de um momento para outro despojada do seu lar e do seu sustento.
Ela temia que de alguma forma a raiva de petrus fosse culpa sua.
Sabia que se o deixasse teria de entregar os seus filhos à assistência social era ainda
classificada como branca e legalmente não poderia ter os seus filhos com ela.
Temia que Petrus, que já a tinha ameaçado fazê-lo, a matasse e decidiu que era tempo de fugir.
Uma manhã gélida de inverno, em julho de 1979 (o inverno abaixo do trópico de Capricórnio ocorre entre os meses de Junho e Setembro), ela fugiu com David Radebe, um amigo de Petrus, levando consigo as suas duas crianças, Henry e Elsie.
A mudança precipitou uma nova e desesperada fase na sua vida, quando Dave a abandonou antes do seu filho, Prins (príncipe em Afrikaans), nascer em Março de 1980.
Ela não podia trabalhar legalmente ou mesmo abrir uma conta bancária.
Era considerada uma não-pessoa que tinha trocado a sua família por um marido que agora a ameaçava matar. sandra estava desesperada.
Ela entregou os seu filhos à assistência para que pudessem ser alimentados e para se sustentar financeiramente a sí e ajudar os seus filhos, Sandra arranjou um trabalho nas limpezas, mas um ano depois ficou gravemente doente.
Os médicos diagnosticaram-lhe a princípio um cancro do ùtero, e como precisasse de uma cirurgia, foi persuadida a entregar os seus filhos á assitência social.
No entanto, o diagnóstico de cancro veio-se a confirmar errado- pois ela tinha outra, maleita ginecológica menos séria, da qual recuperou.
Mas já era tarde.
Naquela altura, era já tarde.
Sandra tinha perdido Henry, Elsie e Prins para o sistema da Segurança Social, e embora continuasse a vê-los todos os fins-de-semana, demoraria cerca de nove anos até que ela conseguisse reavê-los.
Só e despojada da companhia permanente dos filhos, ela embarcou numa nova relação e teve mais um outro filho, Anthony.
Novamente , o pai desta criança abandonou-a e ao bébé antes dele nascer.
Finalmente, em 1987, a vida de Sandra deu uma grande volta, quando um motorista de camião chamado Joahannes Motlung começou a cortejá-la.
"Eu gostava de estar com Johannes"- Diz. "
Ele era uma pessoa calma e não me batia".
Ela teve o seu sexto e último filho com Joahannes em 1988. Pouco tempo depois os seus três filhos foram-lhe entregues.
A sua filha, Elsie, lembra-se de ter visto um dia com alegre surpresa a sua mãe á espera no portão da escola.
"Ela disse-nos que nos vinha buscar de vez. Eu estava muito contente.Chorei. Ela disse que não tinha dinhiero e eu disse-lhe "Mãe, não faz mal, desde que estejamos juntos".
Mais uma vez toda a família estava toda junta debaixo do mesmo tecto, Sandra sentia-se suficientemente forte para reiniciar a busca dos seus verdadeiro pai e mãe.
Reencontro com a mãe
Ela descobriu uma prima, Susanna, que lhe disse que o seu pai tinha morrido de cancro um ano antes.
"Sentí-me triste e chocada. Eu tinha querido pedir-lhe que me perdoasse antes de ele morrer" disse Sandra.
Susanna, a sua prima também lhe deu o telefone da sua mãe Sannie.
Sandra telefonou e ela e Sannie falaram pela primeira vez em 16 anos.
"Ela estava surpreendida por saber como estava. Perguntou-me quantos filhos tinha. Perguntou-me onde estava e se estava bem."
"Não me peças dinheiro."
"Não lhe perguntei onde estava, mas perguntei-lhe porque não me disseram que o meu pai tinha morrido. Ela disse que eles não sabiam onde encontrar-me".
Algumas semanas depois Sandra recebeu uma carta e 150 £ da parte da sua mãe, mas nenhum endereço para o qual pudesse responder à missiva.
"Não peças mais dinheiro. Não há mais...Deves ficar bem e olhar por tí própria."
Sannie escreveu:"Muitos cumprimentos da tua mãe.
Com o fim do apartheid em 1990, sandra sentiu que a sua vida estava por fim no rumo certo, mas que a sua felicidade duradoira dependia de receber o perdão da sua mãe por tê-la abandonado.
Depois de muitas perguntas, Sannie foi descoberta por Sandra num lar de terceira idade nos arredores de Pretória, menos de uma hora de carro de onde Sandra vivia.
Em Janeiro de 2000, sandra esteve em pé,à entrada de um quarto de visitas, torcendo um lenço branco nas suas mãos.
Uma porta interior abriu-se e uma enfermeira apareceu, empurrando uma senhora idosa numa cadeira de rodas.
Sannie sentou-se com os olhos embaixo.
"Eu tinha medo que ela estivesse zangada comigo" disse Sandra. Mas a mãe olhou para cima e eu ví que ela me amava."
Elas disseram :"A sua filha está aquí."Ela perguntou:"Que filha?!?"porque Leon disse-lhe que eu tinha morrido.Ela não podia acreditar que fosse eu.
Depois de a ver, as enfermeiras disseram-me, "Ela está muito melhor, depois de a ter visto"- ela ficou sózinha depois do meu pai ter morrido em 1998.
"Era estranho.Eu não acreditava que fosse a minha mãe- Tão velha e tão doente. Eu tinha ansiado vê-la durante tantos anos...Tinha escrito tantas cartas que ficaram sem resposta...
Não sabia para onde se tinham mudado ou para onde tinham ido.
Ela estava ali na sua cadeira e rodas e o sentimento era uma mistura de amor e dor.
lembro-me dela como a minha mamã tomando conta de mim, embalando-me, mostrando-me como as plantas do jardim cresciam...
Eu costumava brincar com bonecas. Eu tinha uma boneca chamada melinda, que tinha uns longos cabelos louros, ebrincávamos com ela juntas.
E cá estava ela, velha.
A relação mãe e filha que deveriamos ter tido parecia ter passado por nós."
Quando sandra foi questionada sobre se no encontro que teve com a sua mãe, Sannie no hospital,lhe perguntou se o pai dela alguma vez lhe havia perdoado, Sandra respondeu:
"Ele deixou-me algum dinheiro no seu testamento. Foi a mesma quantia que ele deixou a Leon e Aadrian. Acho que isso foi o perdão que eu aguardava. Não lhe perguntei mais nada..."
Sandra começou a chorar...
"Leon disse à minha mãe que eu tinha morrido.Tentou pagar-me para que não fosse vê-la para que não fosse (ele) apanhado a mentir...
Não perguntei à minha mãe se o meu pai tinha mudado de ideias a meu respeito.Já não tinha mais energia para lutar ou aceitar mais algum tipo de rejeição.
Ele lutou para que eu tivesse aquilo que ele achava que fosse uma vida melhor para mim. mas quando eu não fiz as coisas à sua maneira, ele disse à minha mãe que a mataria se ela tivesse algum contacto comigo.
Mas eu sei que ele me amava e gostava de mim. Ele foi a tribunal e fez o melhor que pôde para me manter branca, pois achava que era o melhor para mim."
Quando Sandra Laing foi questionada sobre se sentia que tinha andado a vida toda a fugir deles ou a andar atrás deles, procurando encontrá-los , ela respondeu:
-Sim, mas eu fugí em busca e uma vida melhor.
Foi uma alegre reunião, mas o rescaldo seria ensombrado pela fúria dos irmãos de Sandra.
Sannie então com 80 anos, já tinha sofrido três ataques e Adriaan estava convencido que o choque de ver sandra a mataria.
Ele e Leon acusaram a sua irmã de ter voltado as costas à família.
Numa chamada telefónica em tom irado, Leon disse a sandra que ela tinha despedaçado o coração dos pais.
"Ele disse que depois de eu ter saído de casa, a minha mãe e o meu pai nunca mais voltaram a ser felizes.
Que eu tinha escolhido não ser irmã deles, e que eu tinha mentido no leito da minha mãe e que eu tinha puxado a brasa à minha sardinha.Eu não lhe respondí. Apenas me limitei a ouvir..."
A despeito das objecções deles , sandra voltou a ver Sannie várias vezes.
A última das quais foi em Julho de 2001, um mês antes da mãe morrer.
Ninguém lhe disse que a mãe tinha morrido até depois do funeral, e Sandra está convencida que isso aconteceu porque os irmãos não a queriam ver lá.
Sandra conseguiu muito mesmo assim contra todas as expectativas.
No decurso da sua vida, muito apesar das suas limitadas escolhas, ela serviu para a sua nação como símbolo de tudo aquilo que era irracional e desumano no apartheid.
Ela conduziu cinco filhos à idade adulta, e mantém uma ferozmente amorosa relação com todos eles.
Em Johannes, ela finalmente encontrou um boa alma gémea.
Quando conhecí o Johannes ,eu trabalhava na fábrica de cosméticos próximo de onde ele trabalhava. Vía-o no autocarro quando ia para o trabalho.
Pensava que este era mais um que quer brincar comigo, mas não, ele mostrou ser uma pessoa diferente.
Ele era um homem bom e ajudou-me muito.
Se Johannes teve o seu papel ao restorar a confiança de sandra na natureza humana isso foi deveras um grande feito.Os seus filhos também fizeram a sua parte.
Uma coisa que ainda ensombra a vida de Sandra é o seu relacionamento com os irmãos.
A melhor coisa que aconteceu recentemente foi quando Leon lhe telefonou para saber como é que ela e a sua família estavam.
"Foi muito bom"-Disse."Falamos como irmão e irmã."
Sandra ainda espera que, um dia, eles se venham a encontrar. "Hei-de pedir-lhe que me perdoe".
Ela continua a ser a única preparada para arcar com a culpa da tragédia familiar, que estave para além do seu controle.
Quando Adriaan era um bébé, ela costumava embalá-lo e dar-lhe de comer.
"Leon disse-me que se a mulher de Adriaan descobre que ele tem falado comigo ela vai-se divorciar dele.
Isso é porque Adriaan, é ele próprio bem escuro.Será que ele tem vergonha de ter uma irmã ainda mais escura do que ele e medo de como isso poderá incomodar a sua bonita mulher branca?
Eu não sei de que cor é que são os filhos dele.Dizem que são brancos. Ele deve-se lembrar de mim, e como éramos bastante achegados.
Talvez tenha medo da sua mulher."
-Pensa que será uma questão de fraqueza, talvez,covardia?!?...!
"Sim.Leon era o meu irmão mais velho.Ensinou-me a andar de bicicleta.Quando a minha mãe morreu eles não me telefonaram.
Eu telefonei-lhes para saber como ela estava, e eles disseram que ela tinha morrido há uma semana atrás.
Não púde ir ao funeral."
-Ainda sente a presença da sua mãe?
"Sim, sinto que ela vela por mim. Sinto-a ao pé de mim e lembro-me dela como uma pessoa que eu deixei para trás, quando saí de casa.
E eu não voltei a olhar para trás.."
O Filme "SKIN"
Além do livro "When she was white" já referido (cujas receitas reverteram a favor de Sandra Laing), a vida de Sandra Laing foi também transposta para o grande écran, num filme chamado "Skin" dirigido por Tony Fabian, e distribuído e produzido pelos estúdios Miramax.
O filme basea-se também no documentário televisivo sobre sandra que foi produzido nos anos setenta , mas que foi banido das televisões pelo apartheid.
No filme o papel de Sandra é representado pela actriz, Sophie Okonedo, que leu o guião antes de se encontrar com Sandra Laing.
O director do filme, Anthony fabian disse:
"Sophie cresceu também ela numa comunidade inteiramente branca que a fez sentir-se diferente.
Ela foi rejeitada e tal como sandra também foi vítima de actos de bullying e rejeitada.
Sophia tem assim bastante enpatia pelo que Sandra Laing passou."
Sam Neill desempenha o papel de Abraham,um pai estricto seco,e casmurro, mas com um grande amor pela sua filha.
"Deve ter despedaçado o seu coração"Diz fabian", mas ele não foi capaz de voltar atrás na posição que tomou."
"No mundo da Àfrica do Sul do apartheid, a aparência era o destino.
Mesmo agora o racismo não acaba. "Tanto nos Estados Unidos como no Reino Unido,as pessoas têm dito:Gostamos do seu filme, mas tem um problema, as audiências são racistas.
No caso dos distribuidores do filme na Grã-Bretanha, disseram que as pessoas negras não verão um filme como este porque não é dirigido às audiências urbanas. Não é sobre rapazes negros com armas, drogas,e prostitutas.
Mas ganhámos prémios de audiências nos festivais de cinema, o que prova que as pessoas não se importam e não querem saber para que cor estão a olhar.
Apenas se importam com o facto de ser uma história comovente ou não."
Quando questionada se temia que a apresentação pública de um filme que contava a sua história de vida, lhe poderia de alguma forma abrir velhas feridas Sandra disse com um enorme sorriso:
"Não...Não tenho medo. Estou pronta para tudo...

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