-É importante que reflectámos no porquê na incongruência, na estupidez e na futilidade de uma guerra que dividiu famílias, destruíu amizades, separou vizinhos e amigos de longa data à mercê de divisões étnicas e de um ódio que o tempo adormeceu mas não esqueceu.
E é importante também que reflectámos na insensatez de todas as guerras....
As raízes destes ódios poderão bem remontar aos tempos do Império Otomano, às divisões já existentes na própria Europa entre os dois grandes Impérios da altura antes da Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
Eram eles o Império Otomano e o Austro-Hungáro.
É bom que não nos esqueçamos que foi precisamente em Sarajevo que ocorreu o incidente que desencadaria a Primeira Guerra Mundial (Grande Guerra) em 1914, aquando do assassinato do Arquiduque Francisco Ferdinando às mãos de um sérvio, Gravilo Princip.
Pano de fundo para os conflitos na Ex-Jugoslávia
Valendo-me novamente da Wikipedia, no seu artigo sobre a História da Jugoslávia:
"Provavelmente a primeira menção "oficial" ao termo "jugoslavo" (oposto ao simples "Eslavos do Sul") foi feita pelo grupo de defensores de um estado conjunto dos eslavos do sul, por políticos das atuais Croácia e Bósnia e Herzegovina, que então estavam ambas incluídas no Império Austro-Húngaro.
No século XIX surgiu um movimento que buscava a união dos povos eslavos do sul da Europa.
O mesmo, conhecido como "Ilirismo", tinha como objetivo integrar em um só Estado as regiões integrantes de dois grandes impérios: o Austro-Húngaro e o Turco.
Porém, somente após finalizada a Primeira Guerra Mundial é que esta ideia pode tornar-se realidade.
Croácia, Eslovênia e Bósnia e Herzegovina, que separaram-se do império Austro-Húngaro, uniram-se à Sérvia e a Montenegro que, até o final do século XIX formavam parte do império Turco.
Sobre estas peças soltas deste emaranhado de culturas oriundas de dois impérios desaparecidos, passou a conformar-se o Reino da Iugoslávia.
A Segunda Guerra Mundial foi devastadora para este país.
Em 1941, a Iugoslávia foi invadida pelas tropas nazistas e desmembrada em diversos componentes que passaram a repartir-se entre a Alemanha e suas aliadas Itália e Hungria.
Para contraporem-se aos invasores surgiram dois grandes grupos guerrilheiros.
O primeiro perseguia o objetivo de libertar a Sérvia e, o segundo, de cunho comunista, buscava a libertação de toda a Iugoslávia.
Este grupo esteve liderado pelo Secretário-Geral do Partido Comunista Iugoslavo, Josip Broz Tito.
Correspondeu a este personagem ser o artífice da libertação de seu povo.
É importante destacar que a Iugoslávia emergiu da Segunda Guerra Mundial totalmente devastada.
Diferentemente dos demais regimes comunistas do leste europeu, produto dos avanços das tropas soviéticas, o iugoslavo impôs-se, basicamente, pela força de suas armas.
Isto proporcionou ao governo do Marechal Tito uma liberdade de manobra que não experimentaram os demais regimes comunistas da região.
Inevitavelmente isto traduziu-se, automaticamente, em um permanente enfrentamento com Moscou.
Foi no manejo de suas diferenças étnicas que o modelo iugoslavo adquiriu os seus traços mais característicos.
Estabeleceram-se cinco repúblicas soberanas (Eslovênia, Croácia, Sérvia, Montenegro e Bósnia e Herzegovina) que aderiram a uma Federação.
Mais tarde a Macedônia também adquiriria o caráter de República soberana.
Por sua parte, a Sérvia contava dentro de seu território com duas províncias autônomas: Voivodina e Kosovo.
O Poder Legislativo desse Estado Federal estava conformado por um Conselho de Nacionalidades que representava os interesses das seis Repúblicas e das duas províncias autônomas.
Este mosaico de diversas nacionalidades pode funcionar graças ao carisma e a forte personalidade do Marechal Tito, que atuava como o grande árbitro na miríade de interesses em disputa.
Como um moderno rei Salomão ele mantinha o equilíbrio entre as posições em conflito.
Sua estratégia consistia em evitar que alguma República ou setor se fortalecesse demasiadamente e adquirisse preponderância que fizesse perigar a estabilidade do conjunto.
Em síntese, Tito propiciava um equilíbrio negativo de forças em que nenhuma das repúblicas sobressaísse em relação às demais.
Após a morte do obstinado marechal em 1980, as coisas começaram a marchar de forma atabalhoada sob a liderança coletiva que ele havia desenhado para sucedê-lo. Mesmo aos solavancos, entretanto, a unidade da Federação se mantinha.
O colapso do comunismo e a febre nacionalista que contaminou a região, fizeram emergir as profundas contradições que se aninhavam na alma iugoslava.
A partir desse momento histórico começaria o processo de esfacelamento do Estado iugoslavo.
No final dos anos oitenta existia na Iugoslávia duas posições extremas.
Uma representada pela Sérvia e a outra pela Eslovênia.
Enquanto a Sérvia entrava numa autêntica revolução nacionalista, a Eslovênia evidenciava um acelerado processo de democratização.
Para conseguir manter uma Iugoslávia forte, Tito sempre creu necessário manter a Sérvia débil.
Slobodan Milošević chegou ao poder idealizando uma revanche dos sérvios.
Para fortalecer a Sérvia o novo líder nacionalista suprimiu a autonomia das duas províncias autônomas que existiam no interior destas repúblicas: Voivodina e Kosovo.
No primeiro caso isso pouco importou pois a grande maioria de sua população é de origem Sérvia.
No Kosovo, ao contrário, a imensa maioria de sua população é de etnia albanesa.
A reação em Kosovo frente à supressão de sua autonomia, desencadeou a repressão sérvia.
Isto foi a gota que fez derramar a paciência da Eslovênia frente aos excessos da Sérvia e determinou que, juntamente com a Croácia, se tornassem independentes da Federação Iugoslava.
Aí começou o desmembramento do Estado federal que ficaria limitado à Sérvia e Montenegro.
As Forças Armadas iugoslavas, sob o controle sérvio, tentaram impedir sem êxito a secessão da Eslovênia e da Croácia.
A partir desse momento a atitude da Sérvia e de Milošević iriam mudar.
Se não era possível manter a Iugoslávia unida, ao menos tentaria integrar a todas as populações sérvias, fora da Sérvia, em uma só unidade.
Impôs-se, desta forma, a tese da "Grande Sérvia".
Sobre esta base as regiões sérvias da Croácia foram anexadas.
Não obstante, quando também a Bósnia se lançou no caminho da secessão, as coisas tornaram-se muito mais difíceis.
As populações sérvias, dentro dessa República, encontravam-se disseminadas, em todos os quadrantes do território, convivendo entre comunidades croatas e muçulmanas.
A resposta de Milošević foi muito simples: a aplicação deliberada e sistemática do terror, como via para conseguir a evacuação de espaços geográficos que pudessem ser ocupados pelos sérvios.
Começava ali a "limpeza étnica".
Em novembro de 1995, frente às pressões da OTAN e à ofensiva militar da Croácia para recuperar os territórios perdidos à Sérvia, firmava-se o Acordo de Dayton que poria fim ao conflito bósnio.
A situação do Kosovo que esgotou a paciência da Eslovênia frente aos sérvios, em 1991, terminou também por esgotar a paciência da NATO frente à Sérvia, em 1999.
Isto forneceu a Milošević todos os trunfos para que ele possa encerrar a década de 1990, reeditando os piores excessos que tornaram tristemente sangrento o século XX."
(in wikipedia, História da Jugoslavia)
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