A cidade de Maputo acordou tímida e silenciosa no dia seguinte aos protestos, que no dia anterior se pautaram por pelo menos 6 mortos,incluindo duas crianças e pelo menos dois polícias, e originaram centenas de feridos e muitos detidos...
O vídeo que se segue dá a conecer a calmaria na manhã do dia 2 de Setembro.
Entretanto a situação voltaria a alterar-se algumas horas depois...
Entretanto tal como noticiou o jornal "O País" (um diário moçambicano) na sua versão online:
"Distúrbios voltam a incendiar a cidade de Maputo
As manifestações voltaram a tomar conta das ruas da cidade de Maputo e Matola, com os manifestantes a desafiarem a forte presença da polícia.
Isto, após as primeiras horas do dia a situação ter-se mostrado calma.
Porém, entre as 9 e 10 horas, as manifestações reacenderam em bairros como Aeroporto, Xiquelene, Hulene-Expresso, Zimpeto, Luís Cabral, entre outros, culminando com o encerramento de várias artérias que permitem a entrada e a saída da cidade.
Há relatos de uma morte esta quinta-feira, no bairo Luís Cabral, e vários feridos nos confrontos entre os manifestantes e a polícia.
Influência sul-africana
No eclodir dos protestos que têm varrido a cidade de Maputo, da matola, bem como alguns outros pontos de Moçambique, ainda que em menor escala, poderá ter havido alguma motivação influenciada pela greve-geral que já dura há pelo menos 15 dias na vizinha Africa do Sul e que tem paralizado a vida económica em daquele país.
As manifestações do dia 1 de Setembro em Maputo
È indiscutível que na origem dos protestos em Maputo estiveram os aumentos oficiais dos preços dos dos bens essenciais, do pão, da água, da electricidade que tornam uma vida já de sí difícil, numa vida absolutamente incomportável para milhares de famílias moçambicanas.
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Capa do jornal "O País" |
A par com a pobreza miserável, muito abaixo daquilo que se considera o limite da pobreza, há a disparidade entre os salários muito baixos, pouco poder de compra e o preço de aquisição dos bens de primeira necessidade, que nas prateleiras das lojas e supermercados se cotam ao mesmo preço que nos supermercados portugueses.
Os salários dos funcionários públicos admnistrativos (trabalhadores de escritório) são pelo menos um terço do salário mínimo em Portugal, havendo muitas famílias numerosas a viver com menos de 100 € por mês.
A juntar a tudo isto Moçambique debate-se ainda com os problemas do desemprego, da SIDA e da imensa teia de corrupção que afecta as instituições públicas e o próprio governo.
O vídeo que se segue dá a conhecer um pouco das condições de vida da população pobre em conexão também com um outro flagelo social, a SIDA:
Seria portanto de esperar o eclodir dos protestos contra o aumento do custo de vida...
Em relação à violência dos últimos dias a juntar-se aos protestos houve também episódios de pilhagem a vários estabelecimentos comerciais e actos de vandalismo, um tipo de fenómeno frequente em situações como esta e que resulta do oportunismo de alguns.
O Presidente da República de Moçambique falou à nação como mostra o vídeo que se segue:
Azagaia: "Povo no Poder"
Em Maputo, à semelhança do que já aconteceu nos protestos de 2008, tem-se ouvido a canção "Povo no poder" do rapper moçâmbicano Edson da Luz, conhecido por Azagaia.
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O Rapper Azagaia |
Azagaia é um musico Rap de intervenção, cuja música "inconveniente" já teve proibição em Angola, e que segundo consta chegou mesmo a ser ouvido pela Procuradoria Geral da República de Moçambique por "ameaçar a segurança do estado".
È possivel ver neste tipo de atitude a fragilidade política da "democracia" moçambicana.
No vídeo que se segue podemos ver e ouvir a canção do rapper Azagaia, "povo no poder" que está a "empolgar" os protestos por todo o Moçambique:
Toda a música de Azagaia tem um caracter interventista,desempenhando o rapper Azagaia um papel importante na conscialização e dando voz ao povo moçambicano das desigualdades sociais existentes naquela sociedade.
O vídeo que se segue "As verdades" atesta isto:
O Rapper Azagaia deu uma entrevista à LUSA onde dá a conhecer a sua opinião sobre os tumultos mais ecentes, do dia 1 de Setembro na capital moçambicana e que em menor grau têm-se alastrado a outras cidades de Moçambique:
"Manifestantes "não têm nada a perder", diz Azagaia, estrela de hip hop de Moçambique"
Lisboa, 02 set (Lusa) - Os protestos em Moçambique estão a ser promovidos por pessoas "que não têm nada a perder", disse em declarações por telefone à Lusa "Azagaia", aliás Edson da Luz, considerado um dos maiores representantes do hip hop moçambicano.
"O custo de vida subiu muito em Moçambique, tem consequências diretas sobretudo paras as pessoas que vivem com o salário mínimo ou não têm salário.
Basicamente são essas pessoas que se estão a manifestar, e que se sentem excluídas, marginalizadas até certo ponto", referiu.
A irreverência das letras das músicas que compõe já motivaram uma chamada à Procuradoria Geral da República, por "atentar contra a segurança do Estado", mas Azagaia, 26 anos, filho de pai cabo-verdiano e mãe moçambicana, garante que a sua música não vai parar.
Nas manifestações de hoje gritou-se 'O Povo ao poder', frase incluída numa das letras que compôs.
No entanto, o músico rejeita uma análise simplista.
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O Rapper Azagaia já foi ´vítima de uma tentativa de assassinato em Maputo pela incoveniência política das suas canções Rap de intervenção |
"É difícil avaliar até que ponto poderei ter influenciado as pessoas, mas uma coisa é certa: tanto eu como Azagaia, e se calhar o fenómeno social Azagaia, e também a imprensa nacional, tudo isto combinado, faz com as pessoas se sintam mais libertas para dizer o que pensam, o que acham".
O músico sublinha que a imprensa nacional "tem desde há algum tempo atacado mais abertamente os problemas, eu faço a minha parte, com a minha música, e isso estimula as pessoas a expressarem-se com maior liberdade".
Azagaia rejeita o epíteto de "marginais" para os manifestantes que hoje saíram à rua, sobretudo nas zonas periféricas de Maputo.
"São marginais mas no sentido de acabarem por ficar de fora, e são vítimas.
São pessoas que não têm nada a perder e a partir do momento em que vandalizam lojas, centros comerciais, percebe-se que são pessoas que não têm nada a perder", sugere.
Na sua perspetiva, trata-se de uma revolta dos moçambicanos. "A ação é de uma parte, das classes menos favorecidas.
Estou em Maputo, e isto está a acontecer na periferia.
É nos bairros suburbanos que as pessoas sentem de verdade esta subida do custo de vida.
A classe média que agora se está a desenhar, e a classe alta não sentem muito".
Apesar de "continuar a existir censura", Azagaia denota contudo uma "reviravolta", e precisa:
"O facto de terem um Azagaia que diz o que diz e continua vivo...
E isso são as questões principais, continuo vivo, a fazer as músicas que faço, a aparecer publicamente, e isso faz as pessoas acreditarem que é possível criticar a sociedade, o governo, e sem receber represálias diretas".
No rescaldo destes acontecimentos, após os quais "Moçambique não poderá ser o mesmo", o músico de hip hop apela ainda ao Governo para adotar "uma atitude menos arrogante".
"Espero que o governo seja menos arrogante, que haja mais comunicação entre o governo e o povo.
E, acima de tudo, se estamos numa crise, que haja contenção de custos. (...)
Espero que o governo ponha mão na consciência e comece a comportar-se como um governo que está a passar por uma crise."
PCR.
*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***
Lusa/Fim
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