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Motim nas ruas de Maputo-1 de Setembro, o dia da greve-geral

Maputo a capital de Moçambique acordou hoje violentamente alvoroçada ante o barulho de tiros e peneus queimados...
Na véspera segundo noticiou o Notícias.sapo.Mz  circulava uma mensagem, de autor anónimo a apelar à greve-geral...
Uma das imagens de vandalismo que caracterizaram
os protestos de hoje
"A mensagem passava de telemóvel em telemóvel, sem ninguém conhecer o primeiro autor.
Incitava-se a uma greve geral por causa do aumento de preços dos últimos dias.
Tudo aumentou.
Combustível, legumes, frutas, materiais de construção.
 Para hoje, estava reservado o aumento da água e da electricidade.
 No dia 6 de Setembro, seria o preço do pão.
O Governo dizia que não tinha escolha, que o mundo estava em crise e os preços tinham de subir.
O povo, que deveria pagar, não queria, e, a bem dizer, nem tem como.
Há quem viva com 20, 50 cêntimos por dia.
Qualquer aumento significa fome, e não um simples sacrifício. "
A imprensa portuguesa deu também ela conta dos protestos que ocorreram em Maputo durante o dia de hoje e que tiveram por base o aumento dos bens essenciais, e que ocasiaram pelo menos seis mortos (três deles polícias) e cerca de 42 feridos.
A cidade de Maputo viveu hoje momentos de extrema agitação, assemelhando-se a um cenário de guerra...
"Os protestos que decorrem hoje nas ruas de Maputo, Moçambique, já causaram oito mortos entre polícias e populares, bem como dezenas feridos, apurou a Agência Lusa.
Segundo a diretora clínica do Hospital José Macamo, Natércia Duarte, o serviço de urgência recebeu "46 feridos civis e polícias", dez dos quais em estado grave e "três óbitos" que chegaram à unidade já sem vida.
Por seu lado, o Hospital de Navalane confirma a morte de dois cidadãos, enquanto o diretor do serviço de urgência do Hospital Central, António Costa, disse que aquela infraestrutura tem a registar um morto e 42 feridos, quatro dos quais em estado grave."
O vídeo que se segue e os videos restantes dão conta da situação vivida nas ruas de Maputo no dia de hoje:


Este vídeo foi produzido pela RTVM.
O Vídeo que se segue foi gravado na Avenida Acordos de Lusaca
Outro vídeo gravado por um popular
Cenário de guerra
A capital moçambicana está a viver hoje um cenário de guerra: nas ruas, a polícia está a disparar balas verdadeiras contra a população enfurecida que não arreda pé e insiste com barricadas em protesto contra o aumento de preços.
Hoje aumentam os preços da água e da luz.
Há relatos de estradas cortadas e lojas vandalizadas, a polícia está a disparar contra os manifestantes e há um número não determinado de feridos.
No centro da cidade de Maputo não há praticamente trânsito e as lojas foram fechando ao longo da manhã, com as pessoas a tentar regressar a casa."
(Para ver a notícia original em AEIOU.Expresso.pt clique aquí)
As imagens da violência dos confrontos de hoje..

O sítio TV.net relatou: a meio da tarde:
"Manifestações, apedrejamentos e tiros da polícia estão a marcar a manhã de hoje nos bairros periféricos de Maputo, onde as entradas na cidade estão na maior parte dos casos bloqueadas com pneus a arder em vários locais.
As últimas informações dão ainda conta de muitos estabelecimentos encerrados no centro da cidade, já o acesso ao aeroporto encontra-se igualmente encerrado. Segundo a polícia já foram efectuados vários disparos.
Há registos de protestos na cidade com confrontos entre populares, tudo devido ao aumento de preços em bens essenciais como água, luz, pão e também dos combustíveis.
Um jornalista moçambicano confirmou à TVNET que já há pelo menos três mortos e 11 feridos graves."
Entretanto sabe-se que a situação parece ter acalmado ao final da tarde, voltando-se a ouvir tiros ao princípio da noite.
O vídeo que se segue dá a conhecer a situação, já mais calma, da parte da tarde nas ruas de Maputo. Notem-se as dezenas de populares que acorreram aos hospitais civís:

A correspondente do Sapo em Maputo, Marta curto deu um relato em primeira mão, detalhado, dos acontecimentos em Maputo no dia de hoje:
"Motim em Maputo: um relato na primeira pessoa - Notícias - Sapo Notícias
01 de Setembro de 2010, 15:19
Por Marta Curto, correspondente do SAPO.mz em Maputo
Hoje de manhã, duas amigas minhas preparavam-se para sair de Maputo, em direcção
às praias do Norte.
 Nem chegaram à rotunda que marca o fim da cidade. Logo um civil mandava os carros retroceder: dali, ninguém passava.
As duas portuguesas,turistas, há menos de uma semana em Moçambique, perguntaram a um polícia se não poderiam seguir.
 Ele respondeu secamente que ali, já à frente, estavam pneus a arder, uma população enraivecida apedrejava os condutores mais teimosos.
 Elas voltaram para trás, para minha casa, onde eu me preparava para sair de casa e ir para o trabalho.
Passava pouco das oito da manhã. Já de chave na mão, ouvi tiros.
Fui à varanda e o fumo dos pneus a arder já subia, lá ao longe, mas não tão longe assim.
 Liguei a um colega de trabalho, menos atrasado do que eu, pedi conselhos de portuguesa a um moçambicano que conhece a cidade de ânimos quentes.
 Aconselhou-me a ficar em casa. Não era seguro.
Já ontem se falava na greve.
A mensagem passava de telemóvel em telemóvel, sem ninguém conhecer o primeiro autor.
Incitava-se a uma greve geral por causa do aumento de preços dos últimos dias.
Tudo aumentou.
 Combustível, legumes, frutas, materiais de construção.
Para hoje, estava reservado o aumento da água e da electricidade.
No dia 6 de Setembro, seria o preço do pão.
O Governo dizia que não tinha escolha, que o mundo estava em crise e os preços tinham de subir.
 O povo, que deveria pagar, não queria, e, a bem dizer, nem tem como.
Há quem viva com 20, 50 cêntimos por dia.
 Qualquer aumento significa fome, e não um simples sacrifício.
A partir das 9 da manhã, uma das televisões moçambicanas arrancou com emissões em directo.
 Imagens de pneus e carros a arder, gente enraivecida, armazéns de comida pilhados, a polícia a atirar.
Um cenário de guerra, de caos, de estado de sítio.
Os incidentes passavam-se sobretudo nos arredores de Maputo, nos bairros periféricos onde mora a maioria da população pobre que trabalha na capital.
 A cidade estava barricada, ninguém entrava, ninguém saía.
Dizia-se que os militares iam sair à rua, que os bairros da Sommerschield 2 e do Triunfo, da Matola e de Benfica estavam cercados.
Por mail, redes sociais e telemóveis, alguns amigos iam comunicando entre si, tendo a certeza de que cada um estava a salvo, ou em casa, ou nos escritórios.
Havia quem falasse em tiros, outros em cheiro a pólvora, os restantes em fumo.
Havia também quem falasse no outro lado da cidade, no centro dos ricos, onde a
guerra não chegou e o cenário era igual ao de tantos outros dias.
Até agora, contabilizam-se pelo menos seis mortos – nomeadamente, duas crianças - e mais de 40 feridos, fazendo suspeitar que as balas não eram de borracha, como as autoridades diziam.
Esta imagem onde se vêem os gradeamentos
nas portas das lojas dá a entender a preocupação com a
grande taxa de criminalidade na cidade de Maputo
O ministro do Interior, José Pacheco, já apareceu na televisão a falar de vandalismo e a dizer que o Governo condena vivamente os actos populares.
 Acrescentou que estas manifestações são ilegais e não têm razão de ser, já que o Governo tem vários instrumentos de diálogo com a população.
Disse ainda que “agora, a polícia controla a situação”.
Neste momento, são 14 horas e a situação já parece ter acalmado.
 Da minha casa, não se ouvem tiros, e o fumo, lá ao longe, já parece ter assentado.
 Um amigo, professor da Escola Portuguesa, que lá se barricou durante a manhã com centenas de crianças, já conseguiu vir para casa.
Os meninos estiveram fechados no auditório à espera dos pais que tentavam chegar à escola, enquanto alguns professores viam os confrontos entre manifestantes e polícia, logo ali, na estrada.
Agora, a rua está calma e não se ouve nada - nem carros, nem gente.
Nas notícias ainda se vêem automóveis a arder, mas parecem estar cada vez mais longe
da cidade.
 Agora é esperar. Ou melhora, ou piora de vez."
(in Notícias.sapo.mz . Ver original )

Reinício dos confrontos ao princípio da noite. Balanço dos confrontos. Reacções oficiais.Comunidade Portuguesa
O mesmo sítio do notícias.sapo.mz voltou entretanto a noticiar:
"Ao anoitecer voltaram os tumultos
01 de Setembro de 2010, 19:27
Depois de os conflitos terem acalmado um pouco durante a tarde, com o anoitecer voltaram a ouvir-se pela cidade de Maputo tiros e com o reforço da vigilância voaram helicópteros por toda a região de Maputo.
Ao contrário do que se vive no centro da cidade, onde “o silêncio é atroz” e “as pessoas caminham caladas”, segundo a jornalista Mafalda Brízido em Moçambique, é nos bairros periféricos que os conflitos voltaram a acentuar-se.
 Os bairros do Zimpeto, Malanga e do Coop são agora pontos de conflito.
O balanço dos confrontos
Vários são os hospitais que recebem feridos vítimas de balas e agressões.
Atocarro vandalizado
Duas crianças estão em estado grave no Hospital Central devido a ferimentos de balas. João Almada, jornalista e director do jornal "A Verdade", encontrou-as no bairro da Malhangalene, centro de Maputo, e transportou as vítimas no seu carro pessoal para o maior centro hospitalar da capital.
Armando Guebuza falou há pouco ao país (ver vídeo), depois de o balanço provisório dar conta de dez mortos em Moçambique.
Um dos feridos entre a população cívil
Os protestos contra o aumento dos preços em Maputo, Moçambique, já terão feito pelo menos dez mortos e mais de cinquenta feridos, avança fonte da polícia ao ‘País on-line'.
Por toda a cidade o cenário repetiu-se: carros apedrejados, pneus incendiados, lojas saqueadas, estradas cortadas para impedir a circulação dos automóveis e transportes públicos.
A manifestação foi convocada através de uma mensagem que circulou por sms.
 Os protestos contra o aumento dos preços dos bens essenciais começaram nos arredores de Maputo, mas estenderam-se ao centro da cidade.
 Ao início da tarde, a situação já estava mais calma.
Reacções oficiais
As declarações do Ministro do Interior, José Pacheco, à rádio Moçambique enfureceram ainda mais os manifestantes.
O ministro classificou como "vandalismo" os protestos contra o aumento de preços, devido aos saques aos estabelecimentos comerciais, e afirmou tratar-se de actos "ilegais".
Um manifestante exibe cartuchos e restos de uma garrafa
de gás lacrimogénio
 Os manifestantes acusaram a polícia de "agir de maneira criminosa disparando directamente para a população”.
Os canais de televisão nacionais estão a emitir, em directo, todos os acontecimentos. As chamadas caem em catadupa, o que mostra o envolvimento dos cidadãos no apelo à calma.
Algumas pessoas aproveitaram a ocasião para saquear casas, bancos, ou incendiar carros, tal como aconteceu em Fevereiro de 2008.
O Consulado de Portugal, em comunicado à comunidade portuguesa, informou que durante todo o dia tem estado atento «a situações em que cidadãos portugueses se vissem potencialmente envolvidos».
Voltaram os conflitos ao início da noite
No centro da cidade, ao longo da tarde, algumas pessoas tentaram retomar a sua actividade mas, como não há qualquer ponto em que seja possível passar, desistiram.
Alastramento a outras zonas do país
A cerca de 400km, na Beira, a situação também se agravou.
Um cartaz irónico que contrasta com os momentos de caos e violência
vivídos hoje em Maputo. A imagem fala por sí própria...
Junto a um liceu alguns populares pegaram fogo a pneus e construíram barricadas. Todavia, a acção da polícia foi bem mais eficaz, já que não existiu o factor surpresa desta manhã.
Depois da intervenção oficial do ministro do Interior José Pacheco, a vigilância foi intensificada com tropas na rua, embora ainda não tenha sido decretado o recolher obrigatório."
Toda esta situação é fruto da miséria e da pobreza, da disparidade de rendas, da corrupção que tem assolado este país desde a independência de Moçambique.
Situação que infelizmente não mudou depois do fim da guerra cívil em 1991.
Os salários continuam baixíssimos, sendo imcompatíveis com o aumento do custo de vida e com o aumento dos preços que vem a agravar a situação geral já de sí já bastante difícil.
Para se ter uma noção, em muitos sectores de actividade practicam-se salários inferiores a 100€ mensais, andando os salários dos funcionários públicos na casa dos 150€ mensais, o que para um país com famílias numerosas,onde as taxas de natalidade são bastante altas não permite acompanhar e muito menos contrabalançar a aquisição dos bens de primeira necessidade, que se posicionam aos preços unitários dos produtos comercializados,ao mesmo preço, num supermercado em Portugal.
Seriam portanto prevísiveis reacções populares como estas, que traduzem o clima de descontentamento geral da população moçambicana.
Os portugueses encontram-se bem, tendo o MNE advertido aos cidadãos portugueses que se mantivessem em casa, e as ligações aéreas Maputo-Lisboa foram já restabelecidas.
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