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Na memória a mala de cartão: Emigração versus Imigração

"Duas malas de cartão numa terra de França
Um Português deixou assim seu Portugal
Como tantos outros, ele não perdeu a esperança
O Português que deixou seu Portugal
Aqui, a noite junto aos seus amigos
Ele procura viver
Lembrando, a sua mulher e seus filhos
Ele canta p'ra esquecer"
("O Português"-Linda de Suza)
Com "duas malas de " cartão, começa assim a canção... Com duas malas de cartão saíram muitos portugueses do seu Portugal natal....deixando para trás a sua família, as suas aldeias e as suas gentes , de peitos esperançosos, buscando em terras estrangeiras para sí e para as suas famílias a dignidade, e a modesta qualidade de vida que a sua terra já cansada,  estéril e oprimida por um regime que lhes roubava a liberdade já não lhes podia dar.
Procuravam uma vida melhor. Partiam levando sonhos na bagagem, procurando escapar à fome, à miséria e ao desemprego que lhes impedia o pão de chegar às mesas.... e que lhes penava a alma...e nos seus corações acompanhava-os sempre a esperança de um dia,esse derradeiro, depois da sua missão cumprida poder regressar finalmente à sua terra querida que os viu partir um dia.
A emigração portuguesa , toda ela, independente do seu destino, mesmo aquela anterior ao século 20 regia-se por alguns padrões definidos.
Primeiro partia o homem, deixando para trás a sua família, a sua aldeia, o seu bairro...
Ia na frente para depois, assim que se reúnissem as condições necessárias, a ele se lhe pudesse juntar a família.
A emigração portuguesa revestiu-se sempre de motivações familiares na grande maioria dos casos...Emigrava-se quase sempre tendo um projecto familiar em mente, fosse ele o de construir uma casa , o de dar à família e aos filhos ,sobretudo condições de vida diferentes daquela que a terra mãe lhes poderia oferecer e também com o intuito de se poder amealhar algum pé-de-meia para o futuro.
No entanto ficava-lhes na alma a ideia de um dia regressar.
A família era para aqueles que para terras estrangeiras iam em busca de uma vida melhor um baluarte, um reduto de segurança no meio de um mundo  e de uma sociedade desconhecida pois numa pespectiva psico-social propiciava a cada um dos seus elementos as condições psicológicas, afectivas e de seguraça necessárias à sobrevivência no país de acolhimento, sobretudo numa primeira fase de contacto com a sociedade local onde não se conhecia ainda ninguém.
Para além da função unificadora e de segurança que a união familiar propiciava a família desempenhava também uma função educativa pois os pais no meio estranho em que se encontravam, numa cultura diferente sentiam a necessidade de dar e transmitir aos filhos a sua identidade cultural portuguesa.
Deste modo nas diversas comunidades de emigrantes portugueses por esse mundo fora, procurou-se dar um amplo destaque a tudo o que fosse português, desde a música, o folclore e a gastronomia, mantendo-se viva a chama da cultura e línguas portuguesas, numa partilha de sentimento de saudosismo ,de esperança de regresso e reforço identitário para com o país de origem.
Neste espírito desenvolveram-se inúmeras associações de emigrantes portugueses que tinham por missão consagrada não só o cultivo e  vivência da própria cultura portuguesa mas também o ensino e desenvolvimento do português enquanto língua materna dentro das comunidades.
Para onde se emigrava?

Muitos foram os destinos e muitos têm e continuam a ser os destinos da emigração portuguesa, sendo que primáriamente se emigrava,e desde os finais do séc.XVIII para o Brasil (onde houve várias vagas de emigração portuguesa com particular destaque para a que se seguiu após o periodo de abolição da escravatura, periodo em que aquela mão-de-obra escrava foi substituída por mão-de-obra assalariada de origem europeia); emigrou-se também para França a partir dos anos 40 (tendo a emigração para este país atingido o seu auge nas décadas de 50 e 60) , para a Venezuela (na sequência da emigração para o Brasil; para os Estados Unidos e Canadá (para onde se dirigiram muitos emigrantes proveniente dos Açores ), e para a Àfrica dos Sul onde se estabeleceram muitos portugueses oriúndos da madeira e outros provenientes de Moçambique que para alí foram no periodo subsquente à independência daquele país.
Foram várias as actividades económicas a que se dedicaram as comunidades portugueses radicadas no exterior.
No Brasil e na Venezuela  muitos portugueses dedicavam-se ao pequeno comércio explorando mercearias e pequenas padarias, na américa do Norte outros dedicaram-se á actividade pesqueira e na França muitos trabalharam na construção cívil, e na àfrica do Sul é comum a existência de muitos talhos, e restaurantes portugueses.

Como viviam os emigrantes portugueses naqueles primeiros anos?

Uma parte dos emigrantes que afluíram à França nos primeiros anos faziaõ de forma ilegal, muitos deles fugindo durante a noite, atravessando as fronteiras para a Espanha de onde igualmente ilegais "davam o salto" para a França.
Já em 1954 o regime salazarista emitia um decreto,o Decreto-Lei nº 39749, que classifica a emigração clandestina como crime, estabelecendo sanções penais e atribuindo competências à PIDE para a reprimir.
Havia alguma oposição por parte do regime, pelo menos a nível institucional á emigração para a França pois nos primeiros anos havia o interesse de que a população portuguesa que quisesse emigrar emigrasse sim para os territórios Africanos sob admnistração portuguesa para assim incrementar a população branca ali existente.
Aqueles que chegavam à França e depois de trazida a família acotovelavam-se em muitos, na maioria dos casos em bairros de lata chamados biddonville...
Em termos de integração social as famílias portuguesas tiveram sempre a tendência de procurar manter a sua identidade cultural pondo de lado qualquer tipo de apelo à intrgração nas sociedades hospedeiras pois isso era visto como uma ameaça´`a sua identidade cultural o que de certo modo impediu que os emigrantes portugueses integrassem ou quisessem integrar as comunidades onde se inseriam.
A questão da integração cultural era sempre vista como um conflito entre os valores culturais e familiares associados ao país de origem e aqueles valores da cultura local pois as famílias portuguesas sentiam a necessidade de manter aquilo que era seu do ponto de vista étnico e cultural, valores que muitas vezes já eram os valores de um Portugal rural, interior e fechado e de uma sociedade tradicional que no contexto do Portugal da época estava a desaparecer pois naquele tempo paralelamente ao fenómeno emigração , assistia-se a um fenómeno importante de migração ds populações rurais (da província) para as cidades, epara os meios urbanos do litoral,onde proliferavam as indústrias geradoras de emprego.
Assistiu-se portanto nessa época em Portugal à quase massiva desertificação dos meios rurais fenómeno do qual ainda hoje se notam as consequências se atendermos á demografia das regiões rurais e a quase inexistência de jovens e crianças.Em muitos casos foram-se os novos e ficaram os velhos.
Segundo certos estudos era pouco manifesto o interesse dos jovens filhos dos emigrantes portugueses em continuar os estudos sendo que os dados estatísticos da Alemanha (país que a par com a suíça conta com uma importante comunidade lúsofona) e da França indicam estes factores pois os jovens de origem portuguesa eram um número pouco representativo nas universidades daqueles países.
A dificuldade com a língua do país de acolhimento era um dos factores de base  alicerçada também pela falta de motivação para a sua aprendizagem tanto pelos pais como pelos filhos.
È claro que com  passar dos anos a motivação inicial também e fruto de alguma estabilidade e integração também se foi esvanecendo e em muitos casos a relação com Portugal acabava por ser repensada, pois entretanto os filhos já estavam integrados na escola o que exigia o adiamento de regresso a Portugal e forçava ao mesmo tempo a uma integraçaõ com a sociedade local.
Muitos dos portugueses que emigravam e se estabeleciam lá fora acabavam no entanto depois de atingir a idade da reforma por voltar já sem os filhos que no entanto já tinham atingido a idade adulta e optavam então por continuar lá fora, onde muitos nasciam e cresciam a par com o sonho dos pais de um ansiado regresso.
É interessante notar a existência também de um fenómeno inverso de pós- emigração, pois muitos dos emigrantes que após a reforma e durante muitos anos acalentaram o sonho do regresso acabarem por de alguma forma regressarem ao antigo país de acolhimento devido a um já grande desenraízamento cultural, o que muitas vezes tem como origem as sobreepectativas acalentadas e o amplo contraste com a realidade mutacional (comum a todas as sociedades) do país que há muitos anos deixaram para trás. 
Emigração Versus Imigração
A importância da reflexão  sobre a emigração portuguesa do século XX em particular dever-nos-á fazer reflectir um pouco sobre a realidade actual de um país que se a bem pouco tempo foi e agora ainda que em menor escala continue a sê-lo um país de emigrantes se tornou ele próprio um país de imigrantes.
Desde meados da década de 90 do século XX Portugal assistiu a algumas vagas sucessivas de imigrantes .
Primeiro alguns provenientes dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, a que se seguiram aquando e logo após o periodo das "grandes obras" (Exposição Universal de Lisboa de 1998, Ponte Vasco da Gama, Centro Comercial Colombo e centro Comercial Vasco da Gama a par com as obras do Metropolitano de Lisboa) imigrantes provenientes da India e Paquistão bem como imigrantes do Leste Europeu e também muitos imigrantes brasileiros.
É importante fazer notar a importancia do valioso contributo destas gentes que com a sua mão-de-obra e esforço vieram a suprimir a nossa necessidade de mão de-obra pois careciamos de braços necessários a tão grandes empreendimentos.
É importante que como emigrantes que fomos tenhamos presente que aqueles desafios , aspirações e motivações que alguns dos nossos compatriotas outrara bem como  ainda hoje enfrentam são aqueles que todos aqueles que por uma razão ou outra e da mesma forma enfrentam no seu dia-a-dia na busca de uma vida melhor que os países deles assim como o nosso noutras épocas não lhes pode dar e de alguma forma não nos pode ainda assim dar de acordo com as nossas ambições e aspirações.
Muitos portugueses tais como os da décadas de 50 e 60 ainda continuam a ter de sair de Portugal para buscar aquilo que cá não conseguem... e no entanto continuamos todos (nós que vamos para fora e aqueles que para cá vêm ) a procurar as migalhas que (e é o que nos apróxima) que nos servirão para que possámos ter uma vida com menos privações.

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